A sanidade animal e o desrespeito trabalhista
“O que Goiás produz a gente mostra”, é o lema da 67ª Exposição Agropecuária de Goiás, além de um evento internacional de animais, com perspectivas de mais de R$ 70 milhões em negócios.
Nesse “negócio” são milhares de trabalhadores e trabalhadoras rurais que saem de seus municípios, e acompanham os patrões com os animais. Os tratadores, vaqueiros, peões e outros, são praticamente obrigados a tarefas exaustivas, insalubres e desumanas, por mais de 15 dias fora de casa, dormindo em redes em baixo de caminhões ou em alojamentos precários e o “marmitex” sem qualidade. Tudo isso para o cuidado especial da saúde e bem estar dos animais.
Além da catinga de bosta abafada nos galpões, o alto volume das músicas horrorosas e um ambiente tumultuado, os trabalhadores não tem horário de trabalho e estão 24 horas dedicados aos cuidados dos animais, sem hora de almoço, janta ou descanso. Tudo isso sem fiscalização ou mecanismo para reclamação. Primeiro que essa prática é apoiada por todos os níveis de governos e também por parte da imprensa especializada, e dos apreciadores das músicas do estilo “ai se eu te pego”. Assim, os trabalhadores e trabalhadoras das exposições agropecuárias em Goiânia e todos os municípios que realizam esse tipo de evento, ficam sem ter opção; ou são explorados ou perdem o emprego.
Há várias notificações de trabalhadores, com início de depressão, e entram no consumo excessivo de bebidas alcoolicas, muitas vezes oferecidas e patrocinadas pelos patrões “coronéis”. Isso é possível observar em horários de pouca movimentação nos parques agropecuários.
Outra constatação é a frequente prática de desvio de função dos trabalhadores, que carregam caixas, fazem limpeza, atendem as demandas dos patrões, em ações que não são as estabelecidas no seu trabalho. Sem falar que muitos desses trabalhadores são informais e não tem contratos com carteira assinada. Nesse momento entram na estória os “gatos” (aliciador de mão de obra barata). Muitos estão trabalhando sem garantia previdenciária e sem segurança no emprego, com risco eminente de acidentes e desenvolvimento de doenças contagiosas.
Chegou a hora do Ministério Público do Trabalho (MPT-GO), tão zeloso e rigoroso com as práticas de exploração do trabalho urbano, fiscalizar a prática abusiva nas exposições agropecuárias no estado de Goiás, começando em Goiânia, pois até dia 3 de junho de 2012, teremos tempo suficiente para uma ação de combate ao trabalho análogo a escravidão.
OBS. Foto de tratadores de animais em Morrinhos-GO.