Tem gente que não imagina que a votação do Código Florestal e o fim do trabalho escravo afeta diretamente a nossa mesa. Isso mesmo, o alimento que chega à casa do brasileiro tem um percentual de 70% sob a responsabilidade do Agricultor e Agricultora Familiar – o antigo pequeno agricultor e o ex-SEM TERRA, que hoje é assentado da reforma agrária. Esses “filhos da terra” são os verdadeiros heróis do Brasil do século XXI.
Estamos acompanhando a histérica discussão sobre o Código Florestal no Congresso, onde os ruralistas afirmam que são os que mais contribuem para o crescimento do país e mais empregam e alimentam. Sim, produzem algodão, cana e soja. Mas a macaxeira, feijão, batata, arroz, leite, frutas, verduras e outros produtos estão nas mãos do Agricultor Familiar (cerca de 7 produtos de 10 produzidos, segundo dados da CONTAG – Confederação Brasileira dos Trabalhadores na Agricultura).
Eles, os ruralistas, que até pouco tempo estavam aliados das maiores violências no Brasil, matando e expulsando trabalhadores das terras, grilando áreas e matando índios e posseiros no norte e nordeste brasileiro; hoje estão com “cara” de desenvolvimentistas e conservacionistas. Sem falar dos altos índices de precarização do trabalho no campo, com a presença dos “gatos”, e grande número de trabalhadores e trabalhadoras que foram resgatados em situação análoga a escravidão nos últimos anos no Brasil; e Goiás tá no ranking da lista (www.mte.gov.br).
Quatro partidos concentram 23 dos 29 deputados federais que votaram contra a Proposta de Emenda Constitucional 438/2001, a PEC do Trabalho Escravo, na última quarta-feira, 22 de maio. Contrariando a orientação de seus líderes, que defenderam publicamente a aprovação, oito integrantes do PSD, sete do PMDB, quatro do DEM e quatro do PP se declararam publicamente contra a medida, que determina o confisco de propriedades em que for flagrado trabalho escravo e seu encaminhamento para reforma agrária ou uso social. Após praticamente oito anos parada, a proposta obteve nesta semana 360 votos, bem mais dos que os 308 necessários para sua aprovação.
As informações são parte de um levantamento feito pela ONG Repórter Brasil. (www.reporterbrasil.org.br )