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O SEQUESTRO DA DEMOCRACIA E A SÍNDROME DE ESTOCOLMO

Márcio Florentino[1]

 

Em uma manhã de agosto de 1973, dois assaltantes invadiram um banco, o “Sveriges Kreditbank of Stockholm”, em Estocolmo, Suécia. O termo Síndrome de Estocolmo foi utilizado pela primeira vez pelo criminalista e psiquiatra Nils Bejerot após examinar os reféns deste famoso assalto ao banco sueco, os quais desenvolveram uma resposta afetiva por seus sequestradores.

Mas, de fato o que é Síndrome de Estocolmo? A Síndrome de Estocolmo é caracterizada por um estado psicológico de intimidação, violência ou abuso em que a vítima é submetida por seu agressor, porém, ao invés de repulsa, ela cria simpatia ou até mesmo um laço emocional forte de amizade ou amor por ele[2].

Segundo os trabalhos realizados com o tema, as pessoas que desenvolvem a síndrome costumam apresentar sintomas como: confusão mental, depressão, agressão, culpa, dependência do aproveitador e distúrbio de estresse pós-traumático e ansiedade, irritabilidade, impulsividade e timidez. As vítimas constroem, também, vínculos emocionais com seus agressores e apoiadores, oriundos dos abusos, intimidações e violências sofridas[3].

No Brasil, nos últimos anos, o povo  também foi vítima de um novo tipo assalto e de sequestro à democracia, com ataques e saqueamentos, de riquezas importantes para o seu desenvolvimento e do país. Olhando para o Brasil hoje, podemos inferir que, neste momento, onde conseguimos libertar o povo brasileiro do cativeiro, que já durava para mais de quatro anos, com o sequestro pelo bolsonarismo e sua quadrilha de extrema direita, da Democracia e da Soberania Popular, haveria manifestações por uma parte das vítimas, de um tipo de Síndrome de Estocolmo Coletiva?

A libertação do cativeiro bolsonarista, encontra se, ainda, em andamento, mas podemos observar nas manifestações, pelo menos dois tipos de comportamento, pós sequestro: o primeiro de vítimas que foram duramente afetadas emocionalmente pela violência, sofrimento e pela dor das perdas que tiveram neste período e ainda, num estado de choque, não conseguem de fato, sentirem-se livres e a segunda e mais explicita é a dos que desenvolveram um tipo de dependência e afeto às formas agressivas e violentas com as quais foram tratados durante os anos de cativeiro. Estes últimos defendem o seu agressor como um “Mito” de força e agressividade necessário para a forma dependente gerada pela violência imposta ao longo do tempo.

Mas como explicar que uma nação considerada forte, possa ser vitimizada e sofrer um sequestro de suas riquezas materiais e imateriais? E ainda ver seu povo submetido a todo tipo de violência, abusos e violações. Ao olhar para o contexto, é possível notar que, para o país ser sequestrado, precisaria estar fragilizado, sem resistências ou qualquer tipo de proteção. Neste sentido, o plano foi iniciar pelo enfraquecimento da democracia em suas formas ainda, frágeis de existência, sendo portanto, necessário golpeá-la.

Obviamente que um sequestro e um golpe desta dimensão, com todas as riquezas envolvidas, em uma nação que chegou a ser a 6ª economia mundial, não poderia ser realizado por uns poucos e despreparados batedores de carteira. Para tanto, um plano audacioso, articulado fora e dentro do Brasil, foi montado. Para o sucesso do golpe primeiro e do sequestro posteriormente, vários recursos e disfarces foram usados, como cortinas de fumaça para que os verdadeiros bandidos e assaltantes da nação não fossem reconhecidos pelo povo.

Neste caso, o que podemos observar foi o surgimento de um tipo novo de golpe e sequestro, não menos violento, que recorreu ao uso de tecnologias e armas, manipulações e desvios de atenção, assim como o uso de muita mentira e falsas informações, como munição para o aniquilamento das vítimas. No entanto, depois de uma grande e vitoriosa empreitada, conseguimos unir o povo, localizar e identificar a quadrilha de extrema direita e bolsonaristas saqueadores do Brasil e de seus apoiadores, assim como de libertar os reféns e as vítimas da violência cotidiana a que estavam submetidas.

Aos que continuam com manifestações de “Amor ao Mito”, com claros sintomas que desenvolveram a Sindrome de Estocolmo aos seus agressores, serão ainda, necessários alguns investimentos na mudança de comportamento e na apuração de todas as violações e danos provocados pelos bolsonaristas ao povo e ao Brasil, para que se funde um novo momento de apoio e entendimento, de união e de paz, com desenvolvimento social e sustentado, com mais democracia, saúde e apoio psicológico, em um exercício de resgate da vida plena e da democracia como um desejo civilizatório, contra a barbárie, o fascismo e todas as formas de regime baseados na força e na violência.

[1] Professor Adjunto de Saúde Coletiva da UFSB.

[2] Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/doencas/sindrome-estocolmo.htm. Acesso em: 03 nov. 2022.

[3] Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/doencas/sindrome-estocolmo.htm. Acesso em: 03 nov. 2022.

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